sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Croché

Durante a minha infância faltaram-me muitas coisas, mas se há coisa da qual não me posso queixar foi das brincadeiras, da criançada, da rua, dos joelhos esfolados.

Vivíamos numa aldeia, nem era uma aldeia, nem era uma vila, nem sei bem se chegava a ser alguma coisa, tinha uma dúzia de casas, e 2 dúzias de adultos e muitas crianças.

Tinha paisagens lindas, havia muitos espaço para brincadeira, muita imaginação e pouco perigo.

Desde a primeira classe que íamos sozinhos a pé para a escola, íamos passando uns nas casas dos outros e quando chegávamos à escola, que era no fundo da rua, já éramos imensos.

Passávamos grande parte do dia na rua, a brincar, na casa uns dos outros, regressávamos quando as nossas mães gritavam o nosso nome, para as refeições, ou para dormir, porque já era tarde.

Havia uma barragem, onde passávamos os dias no Verão, a aprender a nadar e mergulhar.

As casas estavam sempre abertas, tinham sempre a chave na porta, era normal entrarmos, como se fossem a nossa casa.

Ao domingo vestíamos as nossa melhores roupas para ir à missa, e o almoço era mais cuidado neste dia.

A maioria das mulheres não trabalhava, ficava em casa, a tomar conta dos filhos. Os trabalhos que tinham eram sazonais, apanha da maçã, da uva e croché.

As mulheres faziam imenso croché, toalhas, colchas e jogos de naprons, depois, de tanto em tanto tempo passava lá o Sr. das rendas, na sua carrinha, que comprava os trabalhos de renda feitos e ia vende-los a outras terras.

E foi assim, que nós, as filhas da terra também aprendemos a fazer croché, tínhamos que ajudar as nossas mães, quanto mais jogos fizéssemos, mais conseguíamos vender.

Na altura era uma seca, éramos crianças, e não há nenhuma criança que goste de estar sossegada a fazer flores e quadrados de croché, quando havia tanto para brincar, tanto para descobrir.

Era uma obrigação, que hoje em dia se está a transformar num prazer.

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